A LENDA
"o sangue escoa como água, os corpos tremem como a terra, os covardes fogem como o vento e as mentes queimam como fogo"
Jamais leia estas palavras em voz alta. As palavras possuem um poder avassalador, ao qual não podem ser mensuradas. Elas influenciam, entretém e, acima de tudo, ensinam.
Talvez, essa seja a pior parte.
Meu povo conta uma lenda antiga sobre um passado improvável. Um conto para as crianças sobre poder e suas consequências.
Peço que me perdoe. Já faz tanto tempo que não conto tal história e mais tempo ainda que deixei de ser criança.
Mas pelo que eu me lembro, era sobre um... um rei, um bom rei.
Em um passado muito distante, quando existia um reino exemplo para todos os outros.
Sherberry, um reino de prosperidade, onde todos tinham o seu lugar e não mediam esforços para se manterem no caminho certo.
O rei desse paraíso era Anzhar, um golem de prata. Seres tão antigos quanto a verdade e a mentira.
Anzhar era tão caridoso, ele dava as riquezas em excesso em sua própria corte para o povo poder continuar progredindo, com escolas, plantações e, é claro, a ciência. Anzhar era muito metódico quando se tratava de misticismo, ele acreditava que a clareza das coisas era essencial para qualquer ser vivo ou coisa conseguir seguir em frente.
Não era à toa que Sherberry era um marco de conhecimentos para a sua época. Mas isso não significa que o uso da magia era menosprezado.
O equilíbrio entre o místico e a ciência era ponto-chave em todo aquele lugar.
Você deve estar pensando nesse momento: “O que deu errado nesse tal paraíso para virar uma lenda para atiçar o senso de responsabilidade nas crianças?”.
Em uma certa noite, em um certo bosque dentro do reino ardeu em chamas. Alguns disseram ter visto uma grande pedra caindo do céu e destruindo a mata, mas o fogo era esquisito. O bosque ficava perto de uma plantação de um vendedor muito conhecido na região, ao qual, quando ele viu o fogo vindo em direção à propriedade, tentou salvar o que podia. Ele acabou entrando em contato com aquele fogo.
Naquela noite, o rei Anzhar precisou enviar uma tropa inteira para lidar com o tal vendedor, que de alguma maneira, estava controlando as chamas e destruindo tudo que por ele passava.
O vendedor tinha claramente perdido a sanidade.
Aquilo tinha chamado a atenção de Anzhar e, pela primeira vez na vida, esqueceu os próprios princípios. Ele mandou trazer a tal pedra dos céus para dentro de sua fortaleza, sem pensar nas possíveis consequências.
Os guardas viram o rei tocar naquela pedra dia após dia e percebiam no olhar dele.
Ele estava mudando, e para pior.
Algumas semanas depois, o rei bondoso ordenou um ataque ao reino vizinho de forma tão violenta quanto de surpresa. Existia uma boa relação entre os dois reinos, o reino jamais esperaria tal ataque.
Foi uma carnificina.
Um reino após o outro foi sendo conquistado à base do derramar de sangue, do derramar de muralhas e do controle.
Logo, a fama de cruel conquistador se espalhou. Até mesmo o próprio povo começou a rejeitar Anzhar.
Então ele conseguiu ficar ainda pior. Ele começou a controlar a mente de quem se oponha a suas ordens, os fazendo perder total livre arbítrio.
Esses seres controlados obedeciam a qualquer ordem dada por Anzhar, além de estarem dispostos a morrer para cumprir a ordem. Você saberia quem é um controlado assim que visse um. Eles possuíam chamas pelo corpo, mais especificamente, em cima da cabeça.
Mas ele corrompeu aquelas pobres criaturas tinha um propósito. Ele precisava para forjar uma arma. Ele usou a vida de seres inocentes junto daquela pedra do céu.
Ele forjou uma espada que traria ainda mais terror a todos que passassem pelo caminho ao qual estava traçando.
Em algumas histórias, a espada podia fazer qualquer coisa, em outras, ela dava poderes infinitos ao portador. Mas a minha versão favorita é a que a espada poderia criar vida para o portador.
O portador poderia dar vida ao que quisesse. E a coisa obedeceria ao dono da espada, nesse caso, o próprio Anzhar.
Em alguns poemas antigos, contam sobre a grande última empreitada para conquistar o restante dos que lutavam contra o regime do rei tirano.
“Do ar não se sabe viver sem, da chuva, das sombras e da perseguição
Não se pode fugir, não se pode controlar; apenas se pode esperar
Não percebemos elas nos seguindo, pois são a essência do natural
Se sabe quando estão com raiva, se sabe quando estão felizes
Pois a luz permitem ou não passar
E quando não passa, o mundo acaba em água”
Eu lembro de recitar esse poema antes de eu dormir. Ele fala sobre umas das criaturas aterrorizantes que receberam a vida pela espada de Anzhar.
Ele apenas a apontou para cima e deu a vida às nuvens. Aquelas pragas arrasaram o resto de esperança que existia em qualquer lugar e em qualquer alma andante por aquele mundo de caos e barbaridades.
O grande mistério em volta desse conto é que o rei foi derrotado de alguma forma. Ninguém sabe como, por que? Por quem?
Mas o rei se foi só deixando para trás essa lenda e uma pequena profecia que os antigos dizem não poder ser dita em voz alta.
Pois traz má sorte.
O que todos sabem, é que hoje existem 3 reinos onde Sherberry estava localizada e essa história foi passada de geração em geração em todos.
O final diz que o rei voltará um dia, e do mesmo jeito daquela pedra que veio do espaço, os heróis que irão derrotá-lo também virão.